
Texto originalmente postado em 22 de Maio de 2018 no Medium
Antes de descrever meus motivos, imagine o dia de uma criança até chegar o momento do futebol. No caso dos que frequentam aulas/treinos pela manhã, imagine o dia anterior e algumas horas prévias pela manhã. Em quantos momentos será que esta criança teve liberdade total de escolher o que fazer, o que comer, onde ir? E após essas experiências anteriores a aula/treino, qual será o estado emocional dessa criança? Feliz, triste, empolgado, bravo?
E aí ele não vê a hora de calçar seus meiões e suas chuteiras, entrar em campo e fazer algumas jogadas de efeito como Neymar e Coutinho, dar passes pra gol como Marcelo e Dani Alves, marcar gols como Gabriel Jesus e Luan, fazer belas defesas como Marcelo Grohe e Vanderlei…
Mas ao chegar a campo qual a realidade? Voltas no campo, circuito físico e/ou técnico-analítico… ZERO LIBERDADE! Seja para criar, para se expressar, para SE DIVERTIR!
Em outros casos, utilizamos de um elemento enraizado na cultura do futebol de rua brasileiro: o bobinho

O bobinho é uma estratégia boa para início de sessões. Trabalha posse de bola, criar linhas de passe e cortá-las, marcação, pressão, velocidade de reação entre muitas outras coisas. E o mais importante em termos de diversão: de forma descontraída.
Quando chega no nível competitivo, o bobinho vira RONDO, consagrado principalmente por Pep Guardiola e seus times.
Eu era um desses treinadores até o início do ano passado. Não apenas por minha decisão mas tambem pelo contexto onde estava inserido que já possuía essa cultura.
Passado isto, mudei de ambiente. E tive contato com um contexto novo numa cultura diferente. E foi aí que pela primeira vez me foi introduzido o conceito de começar aula/treino com jogo. Mas não o jogo formal, com medidas oficiais. Um coletivo reduzido. Com gol menores, algo parecido com o futebol de rua no qual muitos dos brasileiros maiores de 20 anos de idade cresceram jogando. Seja literalmente na rua, ou no playground do predio, ou na quadrinha do condominio/clube etc…
O meu trabalho é: deixar um espaço de jogo preparado, coletes e deixar as crianças protagonizarem aquele momento. Eles organizarão os times, decidirão bola ou campo, serão responsáveis pela arbitragem e etc… E eu estarei presente, observando mas sem interferir. Apenas soltando comentários no ar, sem dar ordens mas criando um ambiente característico com objetivo de levar crianças ao ESTADO DE JOGO.
E vi que aquilo realmente fazia sentido.
1- Diversão
Até os 10 anos de idade, este é o principal motivo deles estarem lá. E pra instigar neles a vontade de aprender e continuar praticando o esporte no futuro, é preciso diversão. Então nada melhor que começar a sessão jogando. BRINCANDO.
É importante ressaltar que tudo depende sempre do contexto. Depende do nível de conhecimento e entendimento do jogo por exemplo. Se eu tenho um grupo de crianças de 5 anos é muito provável que eu não faça um coletivo. Aí é assunto pra outro texto…
2- Liberdade
Ao começar com um jogo parecido com o coletivo sem regras/condições específicas, as crianças tem liberdade de tomar suas decisões e encarar as consequencias dessas. Neste momento, o jogo é o mestre e o feedback de cada ação está intrínseco.
3- Comunicação
Resolução de conflitos, organização do jogo e do próprio time entre outros fatores os estimulará a se comunicarem. Como dito anteriormente, eu estou presente mas sem interferência. Aqueles 15 minutos iniciais são deles. O que leva ao próximo tópico…
4- Autonomia
Com a figura do treinador fora de cena, caberá a eles às decisões como decidir regras e limites do espaço de jogo para que a atividade ocorra da melhor maneira possível. Isto trará uma necessidade de voz ativa no grupo. Talvez uma forma de despertar lideranças no grupo.
5- Concentração
Como dito no início do texto, cada criança chegará a aula/treino em um determinado estado emocional e cognitivo. Ao ingressar em um jogo esta não terá outra escolha que não prestar atenção ao jogo ou lidar com as críticas dos colegas. Portanto é uma ótima estratégia para elevar o nível de concentração na aula/treino para as atividades que virão a seguir. O que me leva ao próximo tópico…
6- Competitividade
O ambiente de jogo é propício ao estímulo da competitividade. Com isso, um bom treinador usará isso a seu favor. Influenciar que cada um seja o melhor que possa ser nas atividades a seguir é um dos resultados positivos disso. Meninos(as) estarão muito mais motivados(as) a fazer os exercícios analíticos de forma mais apropriada e com mais interesse.
7- Tempo de jogo
Está mais do que claro na literatura científica que o tempo de jogo é elemento essencial na formação. Entre as diversas teorias, uma que ganhou notoriedade ultimamente foi a das 10mil horas. Malcolm Gladwell em seu livro Outliers disserta sobre a necessidade de 10mil horas de prática em tal coisa para chegar a excelência nesta.
O que achou? Acrescentaria mais alguma razão? Discorda em algo?