
Nas duas últimas semanas que se passaram eu vivi momentos de descabelar professores de escolas de futebol nos EUA: TRYOUTS
Tryouts nada mais é que o processo que no Brasil conhecemos popularmente como “peneira”. Aquele processo seletivo onde um número de crianças/adolescentes são observadas para a detecção e captação de talentos e então formação de uma equipe.
Sim, você leu certo: nos EUA as escolas de futebol realizam processo seletivo. O funcionamento das escolas de futebol por aqui são bem diferentes do que estamos acostumados no Brasil. Pra saber mais a respeito, clique aqui
Na escola de futebol onde trabalho funciona assim: cada categoria tem dois dias de peneira, uma hora e meia de duração em cada dia. A avaliação é simplesmente em forma de jogos (reduzidos e formal).
Em anos anteriores nós professores avaliávamos cada criança, seja aluno atual ou não, atribuindo a cada um se tem nível para o time A, B, C ou se não tem condições de jogar nessa escola.
Neste ano, o formato mudou e tornou-se mais eficiente. Ao invés de avaliarmos a todos, avaliamos apenas os meninos que não fazem parte da escola e alguns casos específicos de alunos da escola já que a esta altura os professores já conhecem os alunos há no mínimo um ano. Portanto não é necessário avaliar em dois dias alguem que o professor já treinou por no mínimo um ano inteiro.
A grande maioria dos alunos já havia tido um lugar garantido na escola antes da seleção de forma a garantir a continuidade do projeto de desenvolvimento a longo prazo além de manter os melhores jogadores para a temporada subsequente.
Após o final de cada dia de tryouts, nós professores nos reunimos para discutir nossas avaliações a fim de montar os times. Passada a semana e times definidos pelos professores, cabe agora ao diretor enviar e-mails a cada pai/mãe de aluno com a proposta – “Queremos seu filho no time A (ou B, ou C)”.
É aí que a dor de cabeça começa…
“Por que meu filho não foi promovido ao time A?”
“Se meu filho não for promovido nós não continuamos aqui”.
“Meu filho ficou muito chateado que o melhor amigo dele foi promovido e ele não”.
E aí eu comecei a pensar… refletir… e lembrei que tinha escutado um pouco sobre a história esportiva de um atleta americano muito bem sucedido. Fui pesquisar um pouco sobre ele para me ajudar nas conversas com pais e justificativas por não ter promovido o “little John”.

Fiz um breve resumo e enviei por mensagem aos pais:
Pois é… o super vitorioso Tom Brady teve dificuldades quando adolescente, quando jovem e nem tudo foram flores já na vida adulta. Mas esse processo o fez chegar onde chegou e o resto é história.
Que mensagem eu quis passar com esse breve resumo sobre Brady?
1-) Nenhum status no esporte infantil define o atleta que você será no futuro, seja bom ou ruim. Tom Brady que o diga!
2-) Se o seu filho não foi promovido agora é porque os professores acreditam não ser o passo certo no momento. E por incrível que pareça os professores estudaram e se especializaram nisso (pelo menos no nosso caso).
3-) Alinhe seus objetivos para seu filho com os motivos certos. Querer ele no melhor time pra poder contar pra parentes e amigos não é um deles.
4-) Se o nível técnico do seu filho é para o time C, aceite. É melhor que ele jogue 90% do tempo num nível que ele consiga tocar na bola várias vezes do que 10% do tempo de jogo tocando na bola uma ou duas vezes.
5-) A forma como você encara esse momento vai ajudar a construir o caráter do seu filho. É um bom momento para ensinar perseverança, determinação, foco entre outros valores e habilidades pra vida.
6-) A forma como o seu filho, você e sua família vivem a vida definitivamente influenciará no desempenho esportivo dele. Ele passa mais tempo na selva ou no zoológico?
Em um bom projeto com profissionais qualificados o importante é acreditar no processo, sem imediatismo.
“Eu treinei 4 anos para correr 9 segundos. Tem gente que não vê resultado em 2 meses e já desiste”. Usain Bolt
Um comentário em “Tryouts – lidando com expectativas”